Implicações são
aqueles significados dos quais o autor não estava ciente, mas que, apesar de
tudo, se enquadram legitimamente no padrão de significado por ele pretendido.
O significado específico
que um autor como Paulo desejava é apenas a ponta do iceberg, a parte visível.
Grande parte do padrão de significado pretendido pelo apóstolo não está
explícito. Ainda assim, o significado específico envolve um padrão de
significado que contém várias implicações, de cuja maioria o apóstolo não
estava ciente, sendo, portanto, apenas parte de todos os subsignificados
comidos nesse padrão. Em Efésios 5.18, por exemplo, o padrão desejado é a
proibição da embriaguez com qualquer bebida alcoólica, e não apenas com
vinho. O mandamento para não nos embriagarmos com vinho é
apenas parte desse padrão. Ele envolve todas as bebidas alcoólicas atuais,
assim como os narcóticos — mesmo que Paulo não fizesse idéia da existência
dessas substâncias nem de como elas entrariam no corpo humano.

"Subsignificado"
e "subestilo" são outros termos que podem ser usados para descrever
as implicações. Outro sinônimo ainda é "significado
inconsciente", embora não seja tão abrangente quanto "implicação",
porque o autor pode estar consciente de várias implicações. mesmo que não
as exponha. Paulo, sem dúvida, estava ciente de que Efésios 5.18 também proíbe
a embriaguez com cerveja, pois era uma bebida que já existia na época. A
implicação inclui esse subsignificado, porém jamais seria um significado
inconsciente.
O objetivo da interpretação
bíblica é compreender não apenas o significado dos autores das Escrituras,
mas também, através de um padrão de significado, as várias implicações
do texto. As implicações não são determinadas pelo intérprete, mas pelo
autor. O intérprete, tal como o mineiro que se aventura pelas montanhas para
encontrar ouro, busca descobri-las. O mineiro não cria o ouro da montanha,
apenas procura o que já está lá. Assim também o intérprete das
Escrituras. Ele busca na montanha da Palavra o ouro que o autor sagrado ali
deixou.
As implicações legítimas
de uma declaração como "Carvalhos são maravilhosos!" são
determinadas pelo autor e pelo contexto: se foi proferida por uma criança
subindo na árvore, é legítimo pensar que para ela "carvalhos são
maravilhosos para subir, devido aos seus muitos galhos". No entanto, se
partiu de um empreiteiro construindo uma casa, de um artista pintando uma
paisagem, de um engenheiro civil encarregado do controle do fluxo de água de
um rio ou de um biólogo ensinando fotossíntese, os carvalhos seriam
maravilhosos pela sua resistência para a construção de casas; pelas suas
belas proporções; pela sua utilidade na prevenção da erosão e no controle
do fluxo do rio; pela capacidade de converter nutrientes. Porém, a implicação
de um não se enquadraria na do outro.
Gálatas 5.2 nos dá
outro exemplo. Paulo declara: "Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos
deixardes circuncidar. Cristo de nada vos aproveitará". O significado
específico que Paulo tinha em mente está bem claro. Ele desejava que os
cristãos gentios da Galácia, seus leitores, soubessem que renunciaram a fé
por ter cedido à pressão dos judeus e se submetido à circuncisão, que
recusaram a graça de Deus em Cristo, procurando, em vez disso, estabelecer
uma relação diferente com Deus, baseada em suas próprias ações ou obras;
que não podiam misturar a fé, que está fundamentada na graça de Deus, com
as obras da lei. Para os gentios na Galácia, aceitar a circuncisão
equivalia, portanto, a renegar Cristo!
A circuncisão não é
discutida pela Igreja cristã hoje. Mesmo assim, durante toda a história da
Igreja, as implicações desse versículo provaram ser de grande utilidade.
Lutero, no século XVI, tomou as indulgências e a penitência proclamadas
pela Igreja Católica como uma tentativa de estabelecer uma relação com Deus
dependente das próprias ações. Era renunciar a relação bíblica com a graça
de Deus, mediada pela fé. Certamente, Paulo não estava pensando no abuso das
indulgências do século XVI ou nas penitências quando escreveu sua epístola
aos Gálatas. Lutero, porém, estava certo ao ver essa implicação implícita
no significado de Paulo.
Lembro-me de uma situação
em que as implicações desse texto foram extremamente relevantes para mim.
Alguns fanáticos religiosos abordaram-me com a advertência de que, para ser
salvo, eu precisava prestar culto em um dia específico da semana. Então
respondi-lhes: "Minha esperança de salvação é que, quando estiver
perante Deus, Ele se lembre de que Jesus morreu por mim e, por causa da sua
redenção, me perdoou. Vocês estão dizendo que, se eu não prestar culto no
dia em que vocês prestam, Deus não vai me aceitar?" A resposta deles
foi: `"Se você não prestar culto nesse dia por ignorância, Deus pode
perdoá-lo". Então retruquei: "Mas não estou fazendo isso por
ignorância! Presto culto no primeiro dia da semana porque era assim que a
Igreja fazia antigamente". "Então", responderam eles,
"você está condenado!" As implicações do texto paulino são
claras: não podemos misturar graça e fé com obras da lei. É estritamente
pela fé que somos salvos — não fé mais circuncisão; não fé mais indulgências;
não fé mais penitências; não fé mais a guarda do sábado.

De modo similar, os
mandamentos "não matar" e "não cometer adultério" (Êx
20.13,14) têm implicações que vão além do significado consciente do autor
bíblico. Jesus as tornou evidentes quando disse que o ódio violava o
significado do mandamento de não matar e que a cobiça pela mulher do próximo
violava o significado do mandamento de não cometer adultério (Mt 5.21-48).
Conseqüentemente, Jesus não está contradizendo Moisés, e sim trazendo à
luz as várias implicações do padrão mosaico. Assim também o mandamento
"olho por olho, dente por dente" (Êx 21.23-25) tem significados
inconscientes, como não cortar a mão de uma pessoa por roubar um pedaço de
pão e não executar alguém por matar um veado sob a proteção do rei —
tais atos constituem-se abusos, pois não correspondem ao padrão de
significado pretendido pelo texto bíblico, que é a punição adequada ao
crime.
Todas as implicações de
um texto são controladas pelo significado pretendido pelo autor. Se
visualizarmos o padrão de significado de Paulo em Efésios 5.18 como um
grande quadrado, apenas os subsignificados "quadrados" por natureza
serão legítimos. Subsignificados "circulares" ou
"triangulares" não serão válidos. (Ver ilustração "Padrão
de Significado") Portanto, para que sejam estabelecidos os limites das
verdadeiras implicações do texto faz-se necessária uma compreensão clara e
cuidadosamente definida do padrão pretendido pelo autor. Dessa maneira,
enquanto substâncias alcoólicas e narcóticas se enquadram no significado de
Efésios 5.18 (por seu efeito tóxico e por causarem descontrole das ações),
comer em excesso ou trabalhar demais não estão implicados. Talvez outros
textos tratem do exagero com relação à comida ou ao trabalho, mas não
esse de Paulo.
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O livro de Robert H. Stein do qual este texto foi extraído, "Guia Básico para a Interpretação da
Bíblia", pode ser encomendado da CPAD selecionando a capa do livro ao lado: