|
RAÍZES RELIGIOSAS DA PALAVRA “PAZ”
(Parte 2)
Um olhar a partir das Sagradas Escrituras Judaico-Cristãs
de João Luiz Correia Júnior
O
sentido da palavra “paz” nos textos fundadores da religião cristã
Nos Textos Sagrados do Cristianismo (Segundo Testamento da Bíblia), o termo
que traduzimos por “Paz” é a palavra grega Irene. O termo não tem
nada a ver com o sentido da palavra romana “Pax”. Procura guardar o
sentido do termo hebraico Shalôm, usado nas Sagradas Escrituras
Judaicas.
Assim, vejamos...
No
Evangelho de Paulo
Nas
Cartas Paulinas, Irene guarda o sentido judaico de Shalôm. Não
se trata da propalada “Pax et Securitas” romana, propaganda ideológica
de que onde o Império domina há paz e segurança.
Já
em 63 a.C., Pompeu invadiu a Judéia sob a bandeira da “paz e segurança”...
Mas essa ideologia foi, sobretudo, uma realização do Imperador Augusto.
Augusto
(Venerável) é um título conferido pelo Senado Romano, em 27 a.C., ao
Imperador, cujo nome de origem era Caio Otávio. Ele era sobrinho de Caio Júlio
César. Quando César o adotou como seu herdeiro, tomou o nome de Caio Júlio
César Otaviano. Nas guerras civis que se seguiram ao assassinato de César em
44 a.C., Otaviano triunfou finalmente em 31 a.C., e governou Roma até sua
morte, em 14 d.C. Ele recusou o título de rei, mas governou mediante o
controle do Senado e mantendo em suas mãos as funções de tribuno e procônsul
das províncias onde as legiões estavam estabelecidas... Todos os imperadores
posteriores conservaram o título de Augusto.
Com
poder concentrado em suas mãos, o Imperador realiza uma série de reformas,
adequando Roma à sua nova condição de Estado mundial. Começa um grande
processo de urbanização por todo o Império, forma mais adequada à instalação
das estruturas de dominação. Roma instaura a ideologia de que, com a dominação
romana, surge uma idade áurea de paz e segurança.
Desse
modo, o imperador celebrava uma paz assegurada pela vitória, uma vez que a
“Pax” romana era em geral imposta aos povos mediante a guerra. Augusto
“pacificou” a Gália, Espanha, Alemanha, Etiópia, Arábia e Egito pela
força das armas. Em toda parte que o Império fincava suas garras, fixava-se
uma cláusula de paz e segurança para justificar a perda de autonomia do
desgraçado povo conquistado, e compensar os terrores iniciais da dominação...
Por meio dessa ideologia, o poder romano garantia o grau elevado de exploração
que se dispunha manter...
Paulo repudia duramente essa mensagem de “paz e segurança”, propaganda
ideológica do Império, situando-a do lado das trevas, símbolo do mal e da
morte... É o que lemos numa das últimas advertências da Carta aos
Tessalonicenses:
“Quando
as pessoas disserem: ‘Estamos em paz e segurança’, então de repente a ruína
cairá sobre elas, como dores do parto para a mulher grávida, e não poderão
escapar. Mas vocês, irmãos, não vivem em trevas, de tal modo que esse dia
possa surpreendê-los como um ladrão. Porque todos vocês são filhos da luz
e filhos do dia. Não somos da noite nem das trevas. Portanto, não fiquemos
dormindo como os outros. Estejamos acordados e sóbrios” (1Ts 5,3-6).
Essa
advertência à comunidade cristã é pedagogicamente voltada para a desalienação
contra a ideologia dominante. Para Paulo, os discípulos e discípulas de
Jesus não podem compactuar com a ideologia das trevas, pois são filhos e
filhas da “luz”. Como tal, têm de estar “acordados e sóbrios”, isto
é, com consciência clara para discernir sobre o que está acontecendo no cenário
político e social do contexto presente, e optarem pela fidelidade ao
compromisso com a causa da vida[D1].
A
motivação para resistir à falsa paz do império, segundo Paulo, não
poderia ser outra, senão o próprio Jesus, “nosso Kyrios”, isto é,
“Senhor” dos que, tal como o Apóstolo, seguem Jesus, o único que nos dá
paz e segurança, estejamos “acordados ou dormindo”. Temos aqui uma
contraposição ao Kyrios do mundo: Augusto. Vejamos o texto:
“Pois
Deus não nos destinou à sua ira, e sim para a salvação através de nosso
Senhor Jesus Cristo, o qual morreu por nós a fim de que, acordados ou
dormindo, fiquemos unidos a ele. Portanto, consolem-se mutuamente e ajudem-se
uns aos outros a crescer, como aliás vocês já estão fazendo” (1Ts
5,9-11).
Além
da fé unicamente no Senhor Jesus, contrapondo a fé no Senhor da terra, Paulo
sugere a vida comunitária como uma excelente forma de resistência ao poder
do Império: “consolem-se mutuamente e ajudem-se uns aos outros”.
Segundo
Paulo, as orientações práticas para a vida comunitária, orientam na direção
dos fundamentos para a construção da verdadeira Paz. Tais fundamentos
espelham-se na prática de Jesus.
Exemplo
disso está no belo canto cristológico, provavelmente usado nas celebrações
das primeiras comunidades cristãs e recuperado por Paulo na Carta aos
Filipenses. Lemos, como introdução, a seguinte proposta: “Tenham em vocês
os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo” (Fl 2,5), isto é, os
mesmos sentimentos que motivaram Jesus ao “esvaziamento de si mesmo”,
abrindo mão de todos os seus privilégios.
Para
quem vive no contexto do Império, como os cristãos da comunidade de Filipos,
esse “esvaziar-se” de si significa abrir mão dos privilégios de
pertencer ao politeuma judaico (3,4-11) e também renunciar aos privilégios
da cidadania romana. “Num tempo em que Roma reconhecia oficialmente o
direito dos judeus, único no império, de honrar a César com preces ao seu
próprio Deus solitário em seu favor, Paulo urge firmemente aos filipenses (e
a outras comunidades) a resistirem àqueles – provavelmente gentios
convertidos ao cristianismo – que advogavam a camuflagem protetora de um
modo judaizante de vida”.
Rompendo
com a ideologia do Império, cujo grande sonho das pessoas consiste em dominar
os outros como senhor de muitos servos, e cujo fundamento está sintetizado na
práxis da violência disfarçada de paz, a proposta de Paulo consiste numa
contra-ideologia dominante, que consiste concretamente no esvaziar-se de si
mesmo, assumindo a condição do serviço solidário, segundo o paradigma
Jesus, que “assumiu a condição de servo” (Fl 2,7).
Por
meio do serviço solidário, em que todos são iguais no serviço, seja qual
for o tipo de serviço, as comunidades cristãs são chamadas a dar excelente
exemplo. Nessa linha de reflexão, por meio da metáfora do corpo aplicado à
vida comunitária, Paulo sugere que é possível manter a unidade, isto é, a
Paz entre as pessoas, desde que cada qual se disponha a servir, na diversidade
dos serviços prestados para o bem comum. Nisso está o alicerce da verdadeira
Paz Social, única capaz de construir a Justiça Social tão sonhada pelos
profetas de Israel. A Paz comunitária, segundo o paradigma cristão tem,
portanto, seus fundamentos na solidariedade por meio do serviço (1Cor
12,12-31).
Nessa
perspectiva, podemos compreender porque Paulo, logo em seguida, coloca o tão
conhecido hino ao Amor (1Cor 13,4-7), como que para dizer que o Amor é o
cimento que dá consistência ao alicerce do serviço solidário, sem o qual não
pode haver Paz:
“O
amor é paciente, o amor é prestativo; não é invejoso, não se ostenta, não
se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio
interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça,
mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo
suporta...”
Nos
Evangelhos, Jesus é apresentado como alguém que promove a Paz pelo serviço
solidário em prol da promoção da vida. E o faz não só por meio de suas sábias
palavras de orientação mas, sobretudo, por suas ações solidárias. Não é
paz de aparências, fundamentada no medo do poder bélico militar dos que detêm
o poder, ou em sua propaganda de que em toda parte temos segurança...
Em
sintonia com a literatura religiosa judaica, que apresenta o Deus de Israel
como aquele que liberta de toda situação de opressão, miséria e escravidão
(Ex 3,7-8), causadora de sofrimento e promotora da violência generalizada em
todas as camadas sociais, os Evangelhos Sinóticos apresentam Jesus como
aquele que vem restaurar o reinado desse Deus na história, promovendo bem
estar social e paz não só para o povo de Israel, mas para todos os povos.
Assim, vejamos...
O
Evangelho de Marcos.
O
contexto em que surgiu o texto de Marcos não promovia a paz social e, conseqüentemente,
também não era promotora de paz pessoal, justamente porque produzia muita
gente socialmente desenraizada, prestes a deixar seu domicílio e a vida
regular. As condições sócio-econômicas do contexto de Marcos estavam ainda
mais deterioradas, do que aquelas do tempo de Jesus. Especialmente na década
anterior aos levantes da guerra romano-judaica (período que mais ou menos
corresponde ao da redação do Evangelho), a deterioração econômica e política
deixou em extrema pobreza partes significativas da população palestinense,
principalmente nas áreas rurais. E, como parte inseparável do ciclo de
pobreza, a doença e a incapacidade física se fizeram sentir mais fortemente.
Para o trabalhador diarista, a conseqüência disso era imediata: desemprego e
empobrecimento ainda maior. Com isso, só fazia aumentar o número daquelas
pessoas que engrossavam as “fileiras” das multidões, verdadeiro “exército”
de excluídos(as) sociais.
Em
muitas narrativas do Evangelho de Marcos Jesus age em prol da Paz, na medida em
que resgata vidas humanas excluídas, desse contexto violento, promotor de miséria
e morte. E o faz de forma corajosa: em pleno contexto de dominação dos aliados
do Império Romano, promotor da “Pax” romana:
“Depois
que João Batista foi preso,
Jesus voltou para a Galiléia, pregando a Boa Notícia de Deus. O tempo já se
cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e acreditem na Boa Notícia”
(Mc 1,14-15).
“...Levavam
a Jesus todos os doentes e os que estavam possuídos pelo demônio.A cidade
inteira se reuniu na frente da casa. Jesus curou muitas pessoas de vários tipos
de doença... (Mc 1,32-34).
De
fato, em Marcos, os relatos de milagres são muitos. Salientam a necessidade de
se promover a Paz por meio de ações concretas que, primeiro, resgatem as
pessoas da goela da morte. Inaugura-se, desse modo, o tão esperado tempo messiânico
(como vimos anteriormente quando refletimos sobre os textos do Profeta Isaías).
Tais relatos aparecem como uma forma de promover a paz, por meio do compromisso
real com o projeto do Deus da Vida. Sem dúvida, Jesus promove a “Paz” ao
restaurar vidas. Por isso, costumava dizer às pessoas curadas: “Vai em PAZ
e permanece curada de tua doença” (Mc 5,34).
O
Evangelho de Mateus
Para
o evangelista Mateus, que dialoga o tempo todo com a cultura judaica,
Jesus é apresentado como o presente do povo de Israel para todos os povos. Um
menino, criança, símbolo por excelência do ser humano sem poder, é
apresentado às nações pelo cosmos (representado pela estrela guia) como
aquele que merece realmente ser adorado, Jesus, o Rei dos Judeus, o promotor da
Paz verdadeira, numa possível referência que contrapõe ao Senhor de Todos os
povos, o Imperador Romano, promotor da paz de aparências. Nessa perspectiva, a
presença dos magos (cf. Mt 2,1-23) simboliza a participação de todos os
povos, incluídos na Boa Nova do amor de Deus manifestado em Jesus.
Jesus
lembra que as pessoas comprometidas com a paz serão consideradas filhas e
filhos do Deus da Paz, numa profunda coerência com o Primeiro Testamento da Bíblia.
É o que está contemplado no Sermão da Montanha, mais especificamente no
trecho das Bem-Aventuranças (Mt 5,9): “Felizes os que promovem a paz: eles
serão chamados de filhos de Deus (Mt 5,9).
O
Evangelho de Lucas
No
Evangelho de Lucas, quando uma multidão do exército
celeste (símbolo do poder de Deus) aparece a humildes pastores da Galiléia (símbolo
da humanidade vitimada pela exclusão social promovida pelo poderio bélico
militar do Império Romano), proclama num coro grandioso “Glória a Deus no
alto, e na terra paz às pessoas que ele ama!”. O motivo é o nascimento de
Jesus de Nazaré. O dom da “Paz” será finalmente oferecido às pessoas que
Deus ama (as vítimas da violência, as pessoas impossibilitadas de viver em paz
por estarem em situação de exclusão social).
O
nascimento de Jesus é, nessa perspectiva, a presença viva da “Paz”, uma
vez que Jesus encarna, por meio de suas palavras, comportamentos e atitudes, o
Deus da Paz. Em sua missão no norte da Palestina, região de muitos latifúndios
e, conseqüentemente, de muita exclusão social de famílias e comunidades
inteiras que simplesmente sobram no sistema econômico vigente, condenadas a não
ser.
Não
é sem razão que os discípulos e discípulas de Jesus costumavam,
influenciados por Jesus, saudar com a Paz. A saudação, nesse contexto, é uma
palavra de poder, que comunica algo do dinamismo das palavras de Jesus: quando
houver recusa em aceitar a paz, a paz transmitida retorna a quem pronuncia a
saudação (Lc 10,5).
No
Evangelho de João
Os
capítulos 13 a 17 do Evangelho de João formam uma unidade, dentro do contexto
da Páscoa, em que Jesus faz a última ceia com seu discipulado, antes de ser
entregue. A Páscoa judaica e a Páscoa nova de Jesus são a moldura ideal dessa
unidade, na qual temos uma espécie de testamento espiritual do Mestre, num
discurso de despedida.
No
meio desse discurso, Jesus deixa a sua Paz para as pessoas que o acompanham em
sua missão:
“Eu
vos deixo para vocês a paz, eu lhes dou a minha paz. A paz que eu dou para vocês
não é a paz que o mundo dá. Não fiquem perturbados, nem tenham medo”. (Jo
14,27).
Essa
“Paz” que Jesus transmite ao seu discipulado é como que uma síntese de
tudo o que realizou, satisfazendo a vontade do Pai. Jesus deixa como testamento
a sua Paz para quem se habilita a participar de sua luta vitoriosa sobre as forças
deste mundo. Trata-se de uma Paz que o mundo desconhece, isto é, que nada tem a
ver com “Pax” romana, paz de aparências. A Paz que Jesus dá é algo que
brota do mais profundo de uma vida que soube testemunhar a vontade do Deus da
Paz.
Conclusão
Pelo
apresentado exposto, podemos inferir que a cultura religiosa judaico-cristã, em
sua origem, inspirou uma mística que, ao longo dos séculos, tem ajudado
mulheres e homens a encontrarem sentido na vida ao se empenharem na promoção
da Paz.
Ser
uma pessoa mística não significa tão somente desenvolver as faculdades
espirituais da sensibilidade, da inteligência, da vontade e do coração.
Trata-se de entender, orientar e alimentar a vida a partir do Espírito de Deus,
Espírito de Amor que tudo anima com seu toque vital, o mesmo que animou Jesus
de Nazaré daquela intencionalidade, vigor, exuberância, atitudes, práticas,
que caracterizaram a sua vida, paixão, morte e ressurreição.
O
sentido da palavra “mística” está bem apresentado no “Dicionário de
Conceitos Fundamentais de Teologia”, da Paulus:
Etimologicamente,
mística provém do grego myô. Este verbo significa o procedimento de
fechar os olhos e olhar para o interior. Daí se deriva, sobretudo, o tipo de mística
do mergulho no divino. Constata-se, ademais, historicamente, uma associação
lingüística e uma conexão objetiva com os cultos mistéricos: myéô
significa iniciar-se nos mistérios. Mystês, era, portanto, o iniciado
nos mistérios.
A
Mística nasce da necessidade humana de sentido para a vida ou como busca de
respostas às questões primordiais da existência. Mística é, então, maneira
de fazer com que este sentido tome forma como experiência ou que a pessoa se
aproxime do sentido de maneira perceptível. Dois elementos fundamentais
caracterizam a Mística:
a)
a expressão objetiva dessa experiência no pensamento e no sentimento, na vivência
e no estilo de vida (comportamento);
b)
a experiência subjetiva, pessoal, intransferível, por meio de visões, êxtase
e profecias, contemplação, como também asceses especiais altamente exigente
ou estilo de vida extraordinário.
Na
Mística, o centro de todos os fenômenos ordinários e extraordinários é a
visão extática: o ser humano é arrebatado acima de si e “percebe” (do
latim experiri) que com ele está presente mais do que ele próprio.
Na
Mística Cristã, essa experiência leva ao Cristo encarnado, isto é, à pessoa
de Jesus de Nazaré. O Crucificado (mística da paixão) e o Ressuscitado (mística
da luz) são parte dela. Mística Cristã é, pois, a experiência de Jesus
Cristo.
A
mística cristã não é esotérica (ou o é apenas em sentido relativo); se ela
está presente aí no sentido da visão extática, não o evidenciam a
intensidade da percepção ou sentimento nem outras formas de fenômeno
extraordinário, mas a mudança da vida prática (metanóia, conversão).
Sem conversão prática não há mística cristã.
A
mística que promove a paz, “mística da paz”, é um modo de vida, um jeito
de viver a Espiritualidade Judaico-Cristã, tão bem expressa nas Sagradas
Escrituras dessas duas Religiões. Por meio dela, muitas pessoas testemunharam,
ao longo dos séculos, de que é possível assumir o desafio do tempo presente,
buscando inspiração no Espírito de Amor que é a essência do Deus da Paz.
Tal mística procura dinamizar a potência divina que cada ser humano carrega em
si mesmo, com o intuito de interferir positivamente / amorosamente em prol da
vida, como co-responsável pela Criação de Deus. Essa é a vocação primeira
de todos nós.
É
urgente, portanto, cultivarmos o trigo precioso da mística da paz que, como
vimos, estava tão presente nas raízes da cultura religiosa judaico-cristã.
Pena que, ao longo dos séculos, o joio da cultura da violência tenha crescido
tanto. Mas, não desanimemos. Ainda há tempo de promover a paz...
Bibliografia
MIETH, Dietmar. Verbete “Mística”.
In: Dicionário de Conceitos Fundamentais de Teologia. São Paulo: Paulus, 1999.
28/09/2005
|